segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Inauguração VANDALISM? de Sofia Martins


Inaugurou em 29 de Novembro pelas 21 horas, a exposição Vandalism? de Sofia Martins. Esta exposição continua no seguimento do ciclo de exposições 2x8 apresentando novas produções deste grupo de artistas.

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e-vai plataforma virtual para a comunidade das artes plásticas e visuais
arte capital



Sofia Martins apresenta-nos uma instalação de fotografias que estará patente até dia 03 de Dezembro.


“O espaço de circulação está disponível (e a «liberdade» também), mas perdeu a qualidade, a singularidade e a abertura. Já não é um espaço de possíveis, mas de circulação de Zombies. A abertura exterior não só não corresponde a uma abertura interior, mas impede-a. O espaço interior dos corpos já não tenta sequer atingir os outros, introduzindo-se no fora. Interiormente petrificado, deixa-se levar dentro de um corpo «livre», fluente e vazio.”[1]

Sofia Couto Martins, artista plástica portuense, propõe-nos nesta mostra um conjunto de 16 imagens fotográficas resultantes de uma deambulação citadina pelos meandros do graffiti. Esta escolha e a sua apresentação sob forma de narrativa faz-nos cogitar sobre um dos maiores, se não o maior, problema da sociedade Portuguesa pós- salazarista, a não-inscrição
[2] na existência individual, histórica e social. As imagens heteróclitas de sentido que a artista nos oferece para deleito, são mais uma tentativa de ultrapassar esta impossibilidade de inscrição que deriva de “estigmas que testemunham o que se quis apagar e que insiste em permanecer.”[3]

Este trabalho, retrato da realidade actual, baseado na herança deixada por um estado repressivo, evasivo, castrador que impunha o apagamento individual, pretende “inscrever a impossibilidade de inscrever”
[4].

As consciências foram afectadas por um “branco psíquico” provocado por um terror oriundo de um medo generalizado. As consciências vivem ainda sob um “nevoeiro invisível” produzido por uma política totalitarista de negação da expressão individual e social. Após a Revolução criou-se um espaço designado de espaço público, que pretendia ser um lugar de livre expressão de opinião, mas na realidade sempre pertenceu somente a alguns indivíduos personalizados e legitimados pelos órgãos de comunicação social. . Segundo a análise de José Gil este espaço não-público não passa de um espaço dos média, utilizado por um grupo restrito de indivíduos com discursos “fulanizados”. Todas as expressões artísticas sofrem por falta desse espaço verdadeiramente público, isto é, um espaço de devir–outro de metamorfoseamento, um lugar de transmissão de forças. A arte em Portugal é uma questão privada, presa num sistema estático com um esforço diário e árduo para que se mantenha inerte e fechado.

Sofia C. Martins alerta para a realidade social actual, com exemplos do panoptismo consentido produzido pelo virtualização, para a solidão dos indivíduos numa suposta sociedade pós-moderna das comunicações constantes, para o acto continuado da escravidão do indivíduo face ao poder político, culminando na expectativa que os circuitos rebentem para que possamos inscrever na nossa história a repressão política vivida no Estado Novo e com repercussões ainda presentes.
Este trabalho é apresentado num espaço institucional na tentativa de fazer com que o devir-outro aconteça, que se dê o metamorfoseamento de forças e que a obra flua e atinja a sua verdade essencial.

Joana Queimadela


[1] Gil,José, Portugal, Hoje – O Medo de Existir,Lisboa, Relógio D’ Água, 2005, p.126.
[2] Segundo José Gil, inscrever implica, acção, afirmação e decisão para que o indivíduo conquiste a sua autonomia e sentido para a sua existência.
[3]Este sentimento poderia ser desenvolvido numa análise mais profunda, segundo as análises Freudianas, mas não consideramos de extrema relevância para o trabalho em análise.
[4] Ibid.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Inauguração de CUIDADO! A ARTE PODE MATAR de Eusébio Almeida


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arte capital



Inaugurou em 22 de Novembro pelas 21 horas, a exposição Cuidado! A arte pode matar de Eusébio Almeida.Esta exposição continua no seguimento do ciclo de exposições 2x8 apresentando novas produções deste grupo de artistas.Eusébio Almeida apresenta-nos uma instalação que estará patente até dia 27 de Novembro.



CUIDADO! A arte pode matar

«A arte é uma droga que gera dependência»
Duchamp

Para criar um poema basta escrever uma palavra numa página qualquer. Qualquer palavra pode ser uma nova página da história do mundo, desde que o mundo não seja uma página em branco (desde que a brancura das frases não sejam um mero refúgio e os homens não se transformem apenas em pedaços de pedra). A verdade é que as pedras são imagens invertidas depois de reflectidas no espelho da água que acabo de beber. A água, neste caso, está no centro das palavras que acabo de escrever. Vou acreditar que as palavras que acabo de escrever não existem ou que existem apenas dentro duma espécie de narrativa virtual. O real dentro do virtual. O virtual dentro do real (a confusão é total). A encenação especulativa esgota-se aqui (só conheço o que conheço, o resto não interessa para nada). A verdade, porém, é que o pulmão da escrita ainda é o mundo (que carece de provas para poder existir à margem da ficção). Por isso é que somos uma parte daquilo que negamos. Aliás, negamos a existência para poder existir melhor. A melhor parte do mundo é sabermos que a realidade pode ser um espelho demasiado enganador.

É que os espelhos são simulações aproximadas do orgasmo. Os orgasmos, esses, são experiências de mera sedução. Seduzir é ser fiel a uma máquina (mesmo que de ficção). Sei que preciso pelo menos de uma imagem. Agarro na mochila, e fujo com essa imagem dentro do bolso. Embrulho-me nas costas da imagem. Só me interessam as costas da imagem. Fujo com uma imagem dentro do bolso, só assim é que consigo resgatar a primeira imagem do mundo. Só assim é que consigo acreditar que ainda é possível partir de novo. Parte da viagem nasce do consolo de saber que não tenho os pés encostados às costas, e que as costas não pertencem à geografia instável do crânio, e que o crânio é uma máquina diferente da máquina com que mastigo os alimentos (o mundo é uma parte do estômago).

Basta colocar uma venda nos olhos para acreditar naquilo que acabo de escrever. Para acreditar no futuro basta tomar um comprimido (verde-amarelo-azul-laranja-roxo), neste caso, tanto faz, desde que se cuspam para fora do instante a transformar pela dor instantânea do devir. Experimentar-cair-levantar (tudo em nome da grande personagem do século). A grande personagem do século é o perigo do eterno caminhar (do não ter de chegar). Eu sei que perdemos a bússola, que perdemos o mapa (mas a cabeça ainda é uma ponte que nos pode ligar à outra margem). Ainda nos resta acreditar que a vida não se resume a um simples «negativo do mundo» (não basta procurar uma simples bolha de protecção). É preciso acreditar que é possível inventar um novo paraíso (simular é preciso). Nós sabemos que a máquina não pára de ganir. Não vale a pena parar a máquina.


É preciso é não abandonar o barco. É preciso é abrandar o passo. Não caminhar tanto. Respirar um pouco de ar puro. Ouvir uma música de Miles Davis. Um poema de Rimbaud. Uma história de Sarah Kane, etc. Ou então escutar apenas o silêncio de uma viagem que arde sem parar. A mochila, essa, continua às costas. Amanhã regresso de Nova Iorque. Depois vou para Berlim. Entretanto regresso novamente a Lisboa. O comboio, o barco, o avião partem todos às 6 da manhã. Lembrar ou não lembrar, já pouco importa. Agora preciso é de abrir os olhos e lentamente erguer a cabeça em direcção ao tecto deste museu (olhar para este tecto é como fotografar as baratas que não consigo matar). Tenho a cabeça a arder só de imaginar que não posso voltar as costas ao futuro (o futuro é uma máquina de fazer regressar o presente ao passado). Valerá a pena fugir? A minha sorte é que as baratas não mordem, e o futuro está prestes a chegar. Para isso basta carregar no botão e o mundo deixará de existir. Deixará de existir................................................................................


Há paredes que são eternas. Há animais que vivem mais do que os homens. Há pessoas que nunca chegam a nascer. Há deuses do tamanho das migalhas. Há museus que não servem para nada. O barco está prestes a partir. O melhor é parar de pensar, caso contrário, já não consigo fugir deste enredo que nos pode matar…

Miguel Amaro (Curador e Crítico de Arte)
Lisboa/Constância

Eusébio Almeida contacto: eusebiomalmeida@iol.pt e eusebio666@sapo.pt

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Inauguração Walking Around de David Etxeberria


apoio: Galeria Arteko

Inaugurou em 15 de Novembro pelas 21 horas, a exposição Walking Around de David Etxeberria.
Esta exposição continua no seguimento do ciclo de exposições 2x8 apresentando novas produções deste grupo de artistas.
David Etxeberria apresenta-nos uma instalação vídeo que estará patente até dia 20 de Novembro.








Sair?

«Ao invés do caminho que me levaria a procurar o rigor da tradução de Walking Around, preferi pensar e usar, para mim próprio, a expressão “andar por aí”. Talvez tenha sido colhida de forma arbitrária, por palavras, que ouvi ou que troquei, atiradas de lembranças cruzadas com outras coisas que me ocorreram. Poderia ser até uma outra forma, como “andar às voltas” ou “dar umas voltas”. O facto é que não sei porque me deixei ir numa espécie de deriva das palavras que me apareceram e das suas ligações sem nenhuma preocupação com a tradução. Sem querer saber se o sentido inscrito no título em inglês tem o mesmo valor e a mesma pregnância em português. Mas a deriva é sujeita a surpresas, e uma delas foi ter encontrado uma passagem de um poema de Pablo Neruda, escrito em castelhano mas que se intitula, também, Walking Around :

Sucede que me canso de mis pies y mis uñas
y mi pelo y mi sombra.
Sucede que me canso de ser hombre
[1]

A obra de David Etxeberria, Walking Around, propõem-nos uma curta viagem em circuito fechado. Numa cidade, num espaço habitado por gente que não conheceremos nunca. Com casas de porta aberta onde estão a passar-se acções, reuniões, ou o que quer que seja. Sabemos que está a passar-se algo, mas só o sabemos por instantes. E isso é tudo o que saberemos em definitivo.
Ao longo do caminho, que o autor nos propõe, produz-se uma certa ambiguidade que emerge da posição que ocupamos como espectadores. O ponto de vista é muito baixo, rente ao chão. Ao nível da rua, mesmo nos lugares públicos para onde somos levados como se fossemos um qualquer animal rastejante.


A diferença está na presença de um par de sapatos, que numa primeira abordagem não nos revela nada. São sapatos que não andam, nem correm, mas sapatos que deslizam. Por vezes movem-se a grande velocidade, mas não correm, porque não há corpo, pé, tornozelo, ou meia que calce estes sapatos. Outro factor disruptivo de uma pretensa narrativa, e que se torna intrigante, e até por breves momentos irritante, tem a ver com o tipo de sapatos. Estes, são um modelo mais apropriado para dançar o Swing, ou semelhantes a um outro destinado a pisar campos de golf (há ainda infinitas hipóteses para o seu uso). David Etxeberria empurra-nos, ou melhor aspira-nos, para um ambiente de estranheza, quase absurdo, imerso por um invólucro sonoro que nos induz numa atmosfera típica de uma twilight zone. O que ele procura é o que resta da nossa memória pela similitude com elementos fetichizados que se referem a alguns exemplos do universo cinematográfico. Os sapatos funcionam como um cliché que empresta uma figuração, uma presença falsa ou ficcional de uma personagem. Masculina? Um gangster ou um dandy de porte aprumado? Outras personagens ocorrem em narrativas ligadas a um estatuto de diferença apartada do quotidiano do homem comum. Embora possa parecer uma primeira aproximação mais óbvia e recorrente no universo das imagens que consumimos, e algumas vezes retemos, estes sapatos são “aquele” que está à margem, que não participa, mas que persegue essa necessidade humana. Como se fossem um intruso clandestino que desliza e entra, e torna a sair num corrupio em que apenas vemos tacos de soalho, mosaicos, pernas e rodapés. Outros sapatos, muitos tipos de sapatos, e desta forma uma diversidade de corpos que se mexem. Dentro de todos esses sapatos estão pessoas que mais não são do que figuras anónimas que se mexem e sussurram.
Nesta deambulação transparece uma sensação de perda, ou de solidão num par de sapatos sem corpo, a andar por aí. Walking Around contraria o desejo simples, expectante e comummente humano de sair, de “dar uma volta”, ou encontrar alguém. Espairecer, tentar ir ao mundo das pessoas e tocar-lhe.
Há, nesta obra, qualquer coisa que causa estranheza. Como se fosse uma desconfiança? Uma dúvida? Uma decepção? Ou uma inquietação?»


João Silvério
Setembro de 2007





[1] Acontece que me canso de meus pés e minhas unhas
e meu cabelo e minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.


terça-feira, 6 de novembro de 2007

Inauguração 24 HORAS de Susana Pires

Inaugurou no dia 08 de Outubro, pelas 21 horas, na sala de exposições temporárias do Atelier-Museu António Duarte diversas obras da Artista Plástica Susana Pires (instalação e desenho).

Susana Pires nasceu em 1980. Vive e trabalha entre Montemor-o-Novo e Lisboa. Estudou Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Participou em várias exposições: Anteciparte 2005 (Estufa-Fria, Lisboa, 2005); XIII Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira; VIII Bienal de Artes Plásticas da Cidade do Montijo; Festival Transforme Zone, (Alverca); Finalistas de Pintura da F.B.A.U.L., (Galeria da Mitra, Lisboa, 2005); Mostra Nacional de Jovens Criadores ’03 (Silves, 2004); Exposição Colectiva “Utopia 9” – Tapeçaria Contemporânea. (Sala da Nora, Castelo Branco, 2003)

«Susana Pires, trabalhando com materiais têxteis, quentes na cor e no tacto, reelabora os fundamentos da escultura na afectividade material e na interactividade proposta à (literal) envolvência do público.

Existe, na maioria dos trabalhos de Susana Pires, um constante diálogo presencial com o corpo enquanto tema privilegiado. Através das suas esculturas, tão esclarecedoras, dir-se-ia direccionada a corpos e a personagens, a representações de ausência, a representações do invisível, ou melhor a sentimentos.

Voltando, de algum modo, a trabalhos anteriores, relembramos nestas peças os seus "abraçatórios", peças que apelam ao tacto e ao contacto do espectador. Assim, a noção clássica de obra de arte, e de escultura, perde-se pelo caminho e ganha-se toda uma nova vertente que atravessa a ambiguidade da interactividade através do material que a constitui. A sua forma perde na figuração, que não é o mais importante, em favor da textura, do contacto, do envolvente.

A autora traz consigo uma reflexão sobre a forma plástica ou, mais concretamente, uma meditação sobre os próprios meios de produção, reprodução e transfiguração do espectador através da arte. Importará não excluir a importância do papel funcional do espectador. As suas peças aguardam o seu contacto e a sua experimentação empírica, estão disponíveis para ser experimentadas, tocadas, vestidas e encaixadas no corpo dos transeuntes. A peça apenas está completa neste momento.

O papel protésico da obra “A Ilusão do Herói” não é, de modo algum, uma afirmação forçada, mas uma constatação. O alargar, o equipar e o aconchegar de modo a estabelecer relações entre obra e espectador, de modo a criar um diálogo táctil entre um Eu e um Outro, um corpo e uma prótese.

Em suma, as suas obras, «são formas para ser usadas, vestidas, entendidas como um jogo com o próprio e a ausência do outro», um eterno contacto»


David Etxeberria